Wednesday, September 05, 2007

Novo blog

Mudamos de endereço!!

agora estamos no http://comunidadeleitores.blog.com/

O 11 de Setembro é o tema em destaque no regresso de férias da Comunidade de Leitores da Velha-a-Branca. No dia 10 de Setembro, portanto na véspera do 6.º aniversário do ataque ao World Trade Center, António Durães, actor e encenador, Arlindo Fagundes, autor de banda desenhada, e Eduardo Jorge Madureira, professor, levarão, às 21h30, para a Comunidade de Leitores da Velha-a-Branca, O Arquitecto, de Rui Tavares (Lisboa: Tinta da China, 2007), In the Shadow of No Towers, de Art Spiegelman (New York: Pantheon Books, 2004) e 102 Minutos, de Jim Dwyer e Kevin Flynn (Barcarena: Presença, 2005).

Não faltem!

Tuesday, June 12, 2007

O outro pé da sereia

Na próxima reunião da Comunidade de Leitores falaremos sobre o último livro do escritor Mia Couto: O Outro Pé da Sereia.

Mais informações neste site

A sessão decorrerá nos jardins da Velha a Branca na primeira segunda feira do mês, como habitualmente, pelas 21.45.

Depois disso, fazemos uma pausa em Agosto e em Setembro voltamos com muitas novidades, e com um novo coordenador da Comunidade: o Eduardo Jorge Madureira.

Maldoror

À semelhança de Lautréamont, queira o céu que os meus ouvintes não se escandalizem com estas palavras, nem pensem que perdi o pouco juízo que pudesse ter. Quis o destino – essa figura de estilo sombria e retorcida – que um dia me cruzasse com esta apologia do mal. Não me recordo já das circunstâncias que rodearam esse encontro, mas tenho uma vaga memória de estar num comboio. Não se preocupem – não há relatos de membros trucidados ou de corpos desfeitos.
Segui à risca o conselho de Lautréamont, dado logo nas primeiras linhas, e dirigi os meus passos para trás, antes de penetrar nos tais domínios inexplorados. Fi-lo, mais coisa menos coisa, durante quatro segundos. Depois segui em frente, perdi-me na leitura dos caminhos tortuosos do mal, da miséria dos espíritos e dos corpos. Saí incólume da viagem – ou talvez não, se acreditarmos que nunca saímos incólumes seja do que for, a não ser que sejamos cegos, surdos e burros.
O horror não está nos livros, nem nos filmes, nem na arte. O horror está cá fora, entre nós, solto e sem rédea. Escondido por trás de cada parede, de cada máscara, de cada mentira mal apalavrada. É esse o mal que me perturba, não a maldade de Maldoror, que nada mais é do que a personificação das nossas angústias e dos medos colectivos.
Erguei pois os olhos para encarar de frente a sombra e a escuridão, bebei das palavras de Maldoror o fel que nos tolda o espírito, e ouvi, ouvi com atenção os silêncios que flutuam na ausência, nas ausências que nos rodeiam.
Pediram-me que escrevesse um texto sobre o autor. A verdade é que de Lautréamont pouco sei. Morreu novo, algures em Paris, num tempo que não conheci e do qual, por isso, não sinto saudades. Como ele era na realidade, não sei. Se gostava de beber sangue ou de matar criancinhas, também ignoro. Mas nada disso interessa verdadeiramente. Suspeito que se deve ter divertido – e muito – enquanto contava a história maldita de Maldoror a todos nós, incautos leitores.

Sara Moutinho
(Escrevinhado num café do Porto, 4 de Junho de 2007)

Monday, May 21, 2007

Próximo livro - Maldoror





A Comunidade de Leitores da Velha a Branca volta a reunir no próximo dia 4 de Junho, pelas 21:45.
O livro que andamos a ler são os Cantos de Maldoror de Isidore Ducasse - Conde de Lautréamont.

Para mais detalhes:

http://www.quasi.com.pt/ficha-livro.php?id=51071

A sessão contará com a presença de Adolfo Luxúria Canibal e de Miguel Pedro dos Mão Morta.

Os livros encontram-se à Venda na Livraria Centésima Página e nas Expressões da Velha.

A Comunidade de Leitores da Velha a Branca está aberta à participação de todos os interessados.
A participação não está sujeita a inscrição.
Recomenda-se a leitura prévia do livro em debate.

Tuesday, March 06, 2007

Próximo livro

TEXTOS E CANÇÕES: José Afonso
Editora Relógio D´Agua

No ano em que se assinalam os 20 anos da morte de Zeca Afonso a comunidade de Leitores da Velha-a-Branca dedica a sessão de Abril ao estudo dos textos deste autor.

Sessão: 2 de Abril de 2007, pelas 21.30, na Velha-a-Branca

«A possibilidade de acesso à obra de um artista é a condição “material” para que ele nos seja presente; a publicação deste livro volta a permitir a descoberta do poeta José Afonso. A alteração mais importante que surge nesta edição reside numa nova sequência dos textos não musicados, e corresponde assim também ao desejo de José Afonso de ver publicada a sua obra poética de uma forma cronologicamente tão rigorosa quanto possível. Infelizmente, nem sempre pude corresponder a esse desiderato de forma indesmentível, já que o autor raramente datava os seus textos, e também porque, com a morte de Santos Barros, a identificação temporal dos poemas escritos entre Março e Agosto de 1981 (cerca de metade do corpus não musicado) se tornou impossível devido à sua dispersão no volume que aquele organizou. Mas o confronto com edições mais antigas dos textos de José Afonso, especialmente as coordenadas por Viale Moutinho (José Afonso, 1972 e 1975), em que são publicados poemas não musicados, bem como a datação de alguns textos, permitiram-me chegar a um critério cronológico fiável.»
(texto disponível no site da Editora relógio D´Agua)

Os livros estarão disponíveis na Livraria Centésima Página e nas Expressões da Velha.

Wednesday, February 28, 2007

sobre Pena Capital

Uma “ideia tão simples” é como, num texto sobre Herberto Helder (in Obra Poética de Ruy Belo. Volume 3. Lisboa: Presença, 1984), Ruy Belo qualifica uma sua observação sobre poesia. A poesia, diz ele, não é o meio mais apropriado para alguém se fazer entender. Mário Cesariny de Vasconcelos subscreveria, com certeza, esta afirmação. A sua obra encontra-se entre o que de mais avesso à retórica há na poesia portuguesa.

“Há palavras imensas, que esperam por nós / e outras, frágeis, que deixaram de esperar”, dizem dois versos do poema you are welcome to elsinore (pág. 34). “Entre nós e as palavras, o nosso dever falar”. E, nesse dever da poesia, o que importa é não impedir que brotem “palavras que nos sobem ilegíveis à boca”.

O poema é uma forma de vida, diz Ruy Belo, no texto inicialmente referido. A poesia – o poder mágico da poesia – tem, por isso, consequências. Quando Mário Cesariny de Vasconcelos morreu, um amigo do poeta contava ao PÚBLICO (27 de Novembro de 2006) por que o autor de Pena Capital não quis ser cremado: “Tinha lido num tratado de esoterismo que, a haver alguma coisa depois da morte, seria a partir do osso sacro”, recordava o tal amigo. “O osso na base da coluna é o centro da energia espiritual, dormente na maioria das pessoas até à morte, segundo crenças esotéricas”, e Cesariny, que “‘olhava para a morte com grande gravidade’, sem qualquer certeza”, achava que, em caso de dúvida, o melhor seria não arriscar.

O poeta é, como, aliás, muitos notaram a propósito de Mário Cesariny de Vasconcelos, uma espécie de mago. Um xamã. A técnica por excelência xamânica, explica Mircea Eliade, num breve texto incluído no poema ode a outros e a maria helena vieira da silva (pág. 159), “consiste na passagem de um plano cósmico a outro” e “o xamã é detentor do segredo da ruptura dos níveis. Existem três grandes planos cósmicos ligados por um eixo central, o Pilar do Céu. Este eixo passa por uma ‘abertura’, um ‘buraco’, por onde o espírito do xamã pode subir ou descer em voos celestes ou descidas infernais”.

Subir em voos celestes – como nos versos “Muito acima das nuvens seja o centro / das nossas misteriosas poéticas / o irresistível anseio de viajar / um só movimento trabalhado à mão / nos ermos mais altos / mais desaparecidos” (pág. 117) – ou descer descidas infernais – como no poema sobre o massacre de Katyn (no bosque de Katyn, na Polónia, em Março de 1940, 22 mil prisioneiros de guerra polacos foram executados pelo exército soviético, tendo os corpos sido descobertos por soldados alemães): “Katyn? / Grande Descoberta! / O homem encontra / com tão pouco esforço / o pus o sangue / a peste a guerra” (pág. 103) – é o trabalho do poeta.

Para cima – “Daqui até Saturno sempre houve muito que andar” (pág. 48) – ou para baixo – “A 10 000 metros de profundidade” (pág. 100) –, há, portanto, nesta poesia “o irresistível anseio de viajar” (pág. 117). No poema autografia I, há, de resto, um singular registo: “tenho um pé que já deu a volta ao mundo”.

E o destino pode ser “uma paisagem extremamente à procura” (pág. 27) ou um corpo – “Em todas as ruas te encontro / em todas as ruas te perco / conheço tão bem o teu corpo”… (pág. 30). E o destino pode ser um andar, entre encontros e desencontros – “Muita vez vim esperar-te e não houve chegada / De outras, esperei-me eu e não apareci” (pág. 21) –, à procura, como no poema uma certa quantidade (pág. 27):

[…]
E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar

Às vezes, os trabalhos do poeta afiguram-se mais simples, como dizem estes versos de a carta em 1957 (pág. 139):

[…]
o poeta forjara realmente um plano:
louvar o ser amado
ter amigos leais
escrever todos os dias ou dia sim dia não
publicar (o possível)
e protestar com lhanesa com simplicidade quer pessoalmente quer
por telegramas contra toda e qualquer prepotência mandona

Este plano tão simples tão nacional
é que ficara longe da realização
para amar com decência eram precisas muitas muitas coisas
principalmente gente menos zangada
para ter amigos leais que seria preciso?
e protestar com lhaneza com simplicidade quem pode ter lhaneza e
simplicidade quando lhe dão para baixo em cima do cabelo com um pau?”

Tão simples e, afinal, de tão difícil realização. Na verdade, está “Ainda longe longe a cidade futura / onde ‘a poesia não mais ritmará a acção / porque caminhará adiante dela’” (pág. 135).

P.S.: As citações de Pena Capital são da 3.ª edição, aumentada (Lisboa: Assírio & Alvim, 2004).

Eduardo Jorge Madureira

Velha-a-Branca, 5 de Fevereiro de 2007

Monday, February 12, 2007

Livro de Março


Próxima sessão comunidade de leitores: 5 de Março, 21.30

Livro escolhido:
"Xmas Qd Kiseres (Christmas Quando Quiseres)" - Jorge Louraço Figueira
Campo das Letras, 2004
ISBN 972-610-896-9

"Vá ao teatro - mas não me convide", berravam as letras garrafais de uma t-shirt adolescente, no meio do grupo que invadia o relvado de Monsanto no Verão do Euro e do Rock in Rio. (…) Essa ausência quase absoluta de um teatro voltado para os adolescentes faz com que outras formas de expressão artística, mais atentas e sempre disponíveis, conquistem definitivamente os espectadores de amanhã. Para reverter a situação é urgente criar pontes entre os espectáculos e o público mais jovem, abrir espaço a uma dramaturgia e uma linguagem cénica capazes de mobilizá-lo, fazer com que ele se reconheça num palco que compreenda os seus códigos e pulse ao seu ritmo. (...) "Xmas Qd Kiseres " é uma clara aposta nessa direcção. (…) É também a história da aposta entre uma ex-professora e dois ex-alunos, numa situação extrema, num bairro de excluídos". (Antonio Mercado)

Jorge Louraço Figueira nasceu na Nazaré, em 1973. Escreveu as peças "O Espantalho Teso" (publicada em "Dramaturgias Emergentes", vol. 1, col. Cadernos Dramat), "Mata-borrão", "Auto da Revisitação" (com Pedro Eiras), "Carinhos de Choque" e "Flash Motel". Participou, em 1999-2000, na Oficina de Escrita Teatral do Dramat, no Porto e, em 2003, na International Residency do Royal Court Theatre, em Londres. Em 2004 recebeu a bolsa Criar Lusofonia, do Centro Nacional de Cultura, para a escrita de um texto original, "Círio dos Salvados".

O livro está à venda com desconto na livraria Centésima Página http://www.centesima.com/

Tuesday, January 30, 2007

+ Escritores na Velha

As Conversas no Tanque recebem no próximo domingo a escritora Alice Vieira.

ALICE VIEIRA nasceu em 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1958 iniciou a sua colaboração no Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa e a partir de 1969 dedicou-se ao jornalismo profissional. Desde 1979 tem vindo a publicar regularmente livros tendo, actualmente editados na Caminho, cerca de três dezenas de títulos. Recebeu em 1979, o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança com Rosa, Minha Irmã Rosa e, em 1983, com Este Rei que Eu Escolhi, o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil e em 1994 o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. Recentemente foi indicada pela Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen. Trata-se do mais importante prémio internacional no campo da literatura para crianças e jovens, atribuído a um autor vivo pelo conjunto da sua obra. Alice Vieira é hoje uma das mais importantes escritoras portuguesas para jovens, tendo ganho grande projecção nacional e internacional. Várias das suas obras foram editadas no estrangeiro

No dia 18 de fevereiro será a vez de José Luis Peixoto que vem à Velha falar sobre o seu novo livro, nas Conversas no Tanque.